quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Xaile

Xaile - Xaile (Universal, 2007)

Xaile é (segundo a autodefinição) Música Planetária Portuguesa. E é-o certamente. Xaile não segue nenhuma das fórmulas básicas da estética musical portuguesa. Mas essa será precisamente uma das razões da beleza de Xaile, não embarcando nos caminhos e trilhas já existentes das sonoridades portuguesas mas partindo à descoberta de novos rumos percorrendo mundos e mares, uns já navegados outros nem tanto. O resultado tem algo de extraordinário, pois apesar da ausência de formatos clássicos dos sons portugueses (pelo menos na forma bruta), é do mais português que possa ser. Português que será celta, será judeu, romano, mouro, castelhano ou fenício, resultando de todas as influências (tantas) que por cá passaram. Mas será ainda mais, será brasileiro, angolano, moçambicano, guineense, timorense, macaense, e de tantos outros locais por nós visitados. E Xaile consegue revisitar todos estes povos e locais que fazem parte da nossa essência.
Talvez por isso o produto final seja uma sonoridade que desperta sentimentos enraizados que guardamos quer na memória individual quer na memória colectiva de um povo que esqueceu muito do passado. As letras (todas originais) ajudam em muito nesta recordação com constante invocação de expressões que há muito caíram em desuso - sape gato lambareiro; giroflé; pouca-terra; rei, capitão, soldado, ladrão - e que os mais novos provavelmente nem nunca terão ouvido. Mas esta ligação ao passado é feita com uma abordagem completamente contemporânea, na qual a sonoridade pop marca uma presença bem assumida misturando-se de forma homogénea com culturas musicais tradicionais bem diversas (está lá a música celta, árabe, o fado, o flamenco, entre tantas outras). As melodias, todas composições originais, são ricas e muito bem instrumentalizadas, sem cairem em tentações de demasiados protagonismos e sempre com uma presença importante.
Um belo complemento para o trio de vozes feminino que está muito bem entrusado e equilibrado. Será esse obviamente o cartão de apresentação de Xaile mas o trabalho resulta de um quinteto formado por Lília (voz, harpa celta, adufe, bombo), Marie (voz, flautas, gaita, adufe), Bia (voz, guitarra acústica, cavaquinho), Rui Filipe (programações, teclados, acordeão, percussões, coros) e Johnny Galvão (programações, guitarras, cavaquinho, percussões, coros) com estes dois últimos elementos responsáveis por todo o trabalho de composição. «Ai Linda, Ai Linda», «Quer Eu Queira, Quer Não», «Pintar a Verdade», «Neste Jardim Celeste», «(E Nós) A Ver o Mar», «Roda da Alegria», «Onde For o Amor», «Aquele Maio...», «Até Me Encontrar», «A Minha Circunstância», «Lá de Onde Eu Sou», «O Que Tu Fazes de Mim», «Haja Saúde» e «Triste Sina Não Saber» são 14 temas que compôem este trabalho editado pela Universal, lançado a 9 de Julho passado. Um álbum muito coerente de um Xaile com identidade e personalidade, que nos dá uma hora de música completamente portuguesa para saborear, recordar e sonhar...

Xaile esteve no Sopa da Pedra #83 de 19 de Julho de 2007 para uma entrevista que pode ser ouvida na íntegra aqui

4 comentários:

Rosmaninho disse...

Muito Obrigada, Carlos Norton, pela oportunidade que me foi dada... ouvir a entrevista a XAILE.

O prometido foi cumprido e ainda por cima mais cedo do que eu esperava!:):)

XAILE é na verdade música planetária portuguesa bem saborosa!

Continuação de bom trabalho numa rádio que, graças a XAILE, descobri.:)
Bem haja!
Mena

Anónimo disse...

Olá Carlos! ****

Só agora consegui ver a "surpresa" especial - por si preparada - no meu mail! Obrigada por ter acedido tão espontaneamente a este "nosso" pedido! Tenho a certeza que serão muitos os agradecimentos dos ouvintes de "Xaile"!

Aqui, do nordeste brasileiro, beijinhos - um pouco chuvosos, é certo - mas muito alegres! ****

Tânia

Anónimo disse...

Olá Carlos!

Muito obrigada por ter satisfeito o nosso pedido tão rapidamente!
Os ouvintes de XAILE ficar-lhe-ão muitíssimo gratos por esta oportunidade.

Beijinhos e continuação de bom trabalho.

Lurdes Costa

Anónimo disse...

Olá de novo, Carlos!

No comentário anterior, faltou-me elogiar a forma como elaborou o texto, que define XAILE e toda a sua essência.
Parabéns também por isso... por tê-lo feito de um modo tão eficaz!

Lurdes Costa